sábado, 25 de setembro de 2010

Aflição


De pé, mas querendo continuar deitada a vida inteira, cronometrei o tempo achando que fosse passar rápido, e ao contrário. Nem passou. Levantei, moída na minha infelicidade e incerteza de vida, vejo no espelho um rosto que não me atracava à tempo demais. E por isso, irreconhecível. De baixo dos olhos, duas bolsas grotescas se depositaram em inchaço, e não sei como amenizar essa tristeza das lágrimas, esse trauma que se reaproxima.
Fiquei tanto tempo na mesmice, que me acostumar com o pouco de felicidade de eu permitia entrar, a cada dia, foi novo, foi completo, e acabou sendo intenso. Pelo menos, para mim. E agora, querem me tirar das mãos pela milésima vez, uma chance, a minha possibilidade, a tentativa que na verdade é uma pessoa, do tipo que não via, nem encontrava há tanto tempo. E olha que rodei na procura, varei noites e dias à dentro, e fui encontrar no lugar mais improvável, a docilidade, o carinho e a atenção, que eu procurava há meses. Saio de óculos escuros na rua, embora pareça não adianta muito - sentem meu desespero nos passos, meu comedimento em fugir do mundo, sem hora pra voltar, lenta no calçadão de quase todos os dias. Eu fico triste e não sei como disfarçar. Coloco a máscara da animada, a maquiagem da harmoniosa, calma e serena, e não funciona. E ouço qualquer música, e choro, choro, choro. Falo e soluço, injuriada com tudo e todos.
Mesmo que seja por antecipação, a minha ansiedade me faz assim, precipitada em tudo que coloco as mãos, os olhos, ou os sentimentos - o coração. Esse não saber me exaspera mais ainda. Me confunde as ações, me faz não entender os atos alheios, e nem as palavras onde por trás, existem tantos e diversos significados. Até o meio da semana, esse caos. Até não ter resposta, o martírio. Demorei pra achar algo que valesse a pena, e agora tomam, me faz sentir o gosto adocicado de estabilidade, calma e paz, e já dão o aviso de que foi apenas uma prévia, o treinamento para a volta ao inferno. Se soubesse que seria assim, nem embarcava na arca dessa aventura toda, e continuaria na minha vida sem emoções, nem distração. Porque depois de sentir todas as coisas boas, deliciando-se em descobrir o outro, e se encantar nas menores coisas, se adaptar ao simplório, à como se nada tivesse acontecido, me dói, me cansa e já não aguento mais.
Acendi vela de sete dias, começo a novena hoje, e peço a todos que conheço, que conhecem a minha história, que rezem, que imane bons pensamentos, que torçam pela minha felicidade! Sabendo ainda, que é difícil, tenho uma pontinha que acredita, que sorri ao pensar na vitória disso tudo. No meu altar, meu arsenal de fé e esperança, faço o meu lado e o possível para que a minha felicidade não pare no tabuleiro, e continue avançando casas, caminhando à frente, ao certo.
E caso não vingue, já aviso: o panfleto do convento mais próximo se encontra no mural vermelho, em frente de onde agora digito, e ligo mesmo chorosa, quebrada e partida. Quem sabe lá, encontro a salvação, as respostas que tanto tento arrancar do todo-poderoso, e não recebo. Ou pelo menos, paz e estabilidade. Seja o que Deus quiser, mas com uma tonalidade do que eu preciso também.. O caso não é de vida ou morte, mas minha vida, é mais ou menos disso.


Mais aqui:
http://calmila.blogspot.com/2010/03/aflicao.html#ixzz0rJYgKiE4
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Um comentário:

  1. Esse é um dos meus textos que mais gosto! Obrigada por compartilhar, guria. Hehe
    Beijoca!

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